sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Estabilidade e Aprendizagem

Opinião: Excesso de mudanças interfere no aprendizado dos alunos

Pessoa precisa se sentir pertencente a um tempo e a um lugar.
Grupo constante dá segurança e contribui para o crescimento.

Ana Cássia Maturano Especial para o G1, em São Paulo
Ilustração psicóloga




Uma das coisas importantes para o desenvolvimento saudável de uma pessoa é que possa se sentir pertencente a um tempo e a um lugar, para que consiga a segurança necessária para ser quem realmente é, em todos os seus aspectos.
Em outras palavras, é preciso que ela encontre um ambiente estável para que vá se constituindo, com referenciais claros. Quando nasce, uma das coisas mais importantes para um bebê é que seu cuidador seja sempre o mesmo. Por isso, há tantos problemas em crianças institucionalizadas.



(Ilustração: Arte/G1)

Em relação a elas, não só quem cuida delas não deve variar, é preferível que o lugar em que habitam também não mude a toda hora. Essa é uma das indicações para os casais que se separam: independente de com quem a criança continuará morando, a moradia deverá ser a que ela habitava, poupando-a de adaptações desnecessárias (já não será fácil viver sem um dos pais).
Deve-se, por exemplo, evitar trocar constantemente a instituição de ensino. Assim como o grupo de profissionais que trabalham com os pequenos durante o ano. O troca-troca acaba interferindo negativamente no aprendizado de muitos alunos. É claro que às vezes não tem como.
Principalmente nas escolas públicas, em que os professores têm aquelas licenças de vários meses. E nas particulares que remuneram mal seus profissionais.
Essas coisas nem sempre controlamos. Independente de benefícios de um lado e baixas remunerações de outro, professores ficam doentes, trocam de emprego, mudam de cidade, famílias também mudam... Há muitos fatores que fazem com que mudanças ocorram.
Existem outras, no entanto, que podem ser evitadas. Como, por exemplo, a mudança dos alunos de turma. Em algumas escolas, a cada dois ou três anos, os grupos do mesmo ano se misturam. Para amenizar o sofrimento dos pequenos, a instituição pede que cada um indique três ou quatro amigos que gostaria de permanecer junto. Embora, no final, quem irá decidir mesmo será a escola. A justifica é que, deste modo, as crianças poderão fazer mais amizades.
Há uma confusão entre amizade e quantidade de pessoas que alguém conhece. Ninguém tem bons relacionamentos por ter vários “amigos”. As próprias crianças dizem isso quando questionadas sobre eles – elas enumeram meia dúzia, mas lembram que amigo mesmo é só fulano ou beltrano.
Amigos mesmo são poucos que fazemos pela vida. Entre eles, está sempre algum que nos acompanhou desde a pré-escola. Mesmo com a distância e rumos diferentes que tomam, sempre será o melhor amigo.
Além do mais, num ambiente como a escola, em que a exposição da pessoa é grande e um ambiente seguro é necessário para que a aprendizagem e o desenvolvimento ocorra, tantas trocas dos componentes do grupo pode dificultar a vida de muitos deles.
Se a escola pensa em ampliar o ambiente social dos pequenos, ela pode propiciar atividades em que diferentes turmas se juntem – longe, é claro, de situações competitivas, quando o sentimento de pertencer e ser fiel a um grupo se intensifica.
Vale lembrar também que o dia a dia da criança não se resume à escola: tem o lugar que mora, o grupo do esporte, do curso de línguas, a família ampliada, o clube etc... Situações em que também conhecem pessoas e criam laços.
O sentimento de segurança que um grupo constante proporciona à alguém tem um grande valor para que ele cresça. As escolas devem tomar cuidado com essas ações.

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