sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Quem disse que o tempo não para?

Vejam a data da publicação. A crítica de Stanislaw continua sem solução. Ou será que o tempo parou?

INFERNO NACIONAL


            A historinha abaixo transcrita surgiu no folclore de Belo Horizonte e foi contada lá, numa versão política. Não é o nosso caso. Vou contá-la aqui no seu mais puro estilo folclórico, sem maiores rodeios.
            Diz que era uma vez um camarada que abotoou o paletó. Ao morrer nem conversou: foi direto para o inferno. Em lá chegando, pediu audiência a Satanás e perguntou:
_ Qual é o lance aqui?
Satanás explicou que o Inferno está dividido em diversos departamentos, cada um administrado por um país, mas o falecido não precisava ficar no departamento administrativo pelo seu país de origem. Podia ficar no departamento do país que escolhesse. Ele agradeceu muito e disse a Satanás que ia dar uma voltinha para escolher o seu departamento.
Está claro que saiu do gabinete do Diabo e foi logo para o departamento dos estados Unidos, achando que lá devia ser mais organizado o inferninho que lhe caberia para toda a eternidade. Entrou no Departamento dos Estados Unidos e perguntou como era o regime.
 _ Quinhentas chibatadas pela manhã, depois passar duas horas num forno de 200 graus. Na parte da tarde, ficar numa geladeira de 100 graus abaixo de zero até às três horas, e voltar ao forno de 200 graus.
O falecido ficou besta e tratou de cair fora, em busca de um departamento menos rigoroso. Esteve no da Rússia, no Jordão, no da França, mas era tudo a mesma coisa. Foi aí que lhe informaram que era tudo igual: a divisão em departamento era apenas para facilitar o serviço no Inferno, mas em todo o lugar o regime era o mesmo: quinhentas chibatadas pela manhã, forno de 200 graus durante o dia e geladeira de 100 graus abaixo de zero, pela tarde.
O falecido já caminhava desconsolado por uma infernal, quando viu um departamento escrito na porta: Brasil. E notou que a fila à entrada era maior do que a dos outros departamentos. Pensou com suas chaminhas: “Aqui tem peixe por debaixo do angu”. Entrou na fila e começou a chatear o camarada da frente, perguntando por que a fila era maior e os enfileirados menos tristes. O camarada da frente fingia que não ouvia, mas ele tanto insistiu que o outro, com medo de chamarem a atenção, disse baixinho:
_ Fica na moita, e não espalha não: O forno daqui está quebrado e a geladeira anda meio enguiçada. Não dá mais de 35 graus por dia.
_ E as quinhentas chibatadas? _ perguntou o falecido.
_ Ah... o sujeito encarregado desse serviço vem aqui de manhã, assina o ponto e cai fora.

(PONTE PRETA, Stanislaw. In: SILVA, Antônio Jesus da et al. Português interpretação. São Paulo: Nacional, 1976. p. 18-19)

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