sexta-feira, 9 de março de 2012

Serviço Educativo - Fernando Pessoa

A Casa Fernando Pessoa assume como sua missão principal o estímulo à leitura de literatura em língua portuguesa. Por isso, o serviço educativo tem uma importância central nesta Casa – a mesma em que Pessoa viveu e brincou com os seus sobrinhos.
A obra de Pessoa – poeta, ensaísta, dramaturgo, ficcionista de si mesmo e do mundo – é, por si só, um apelo extraordinário à criatividade e ao amor pela palavra escrita e pela sua capacidade de transformar o mundo. Assim, além das variadas sessões culturais que organizamos e do trabalho que temos vindo a desenvolver com as escolas e na Casa, em oficinas diversas destinadas a participantes de diversas idades, decidimos lançar um Clube Pequenos Pessoas, especificamente destinado aos mais novos. Apresentamos neste espaço a história de Fernando Pessoa, poemas seus, quadras, prosa e cartas de amor, bem como uma série de jogos, passatempos e desafios em torno da figura e da obra do Poeta e dos seus heterónimos. Esperemos que gostem, e que se divirtam. Contamos com o vosso contributo para tornar este clube cada vez mais interactivo e estimulante.

Inês Pedrosa
Directora


Álvaro de Campos [A LIBERDADE SIM A LIBERDADE!] 
A liberdade, sim, a liberdade!
A verdadeira liberdade!
Pensar sem desejos nem convicções.
Ser dono de si mesmo sem influência de romances!
Existir sem Freud nem aeroplanos,
Sem cabarets, nem na alma, sem velocidades, nem no cansaço!
A liberdade do vagar, do pensamento são, do amor às coisas naturais
A liberdade de amar a moral que é preciso dar à vida!
Como o luar quando as nuvens abrem
A grande liberdade cristã da minha infância que rezava
Estende de repente sobre a terra inteira o seu manto de prata para mim…
A liberdade, a lucidez, o raciocínio coerente,
A noção jurídica da alma dos outros como humana,
A alegria de ter estas coisas, e poder outra vez
Gozar os campos sem referência a coisa nenhuma
E beber água como se fosse todos os vinhos do mundo!


Passos todos passinhos de criança…
Sorriso da velha bondosa…
Apertar da mão do amigo sério…
Que vida que tem sido a minha!
Quanto tempo de espera no apeadeiro!
Quanto viver pintado em impresso da vida!
Ah, tenho uma sede sã. Dêem-me a liberdade,
Dêem-me no púcaro velho de ao pé do pote.
Da casa do campo da minha velha infância…
Eu bebia e ele chiava,
Eu era fresco e ele era fresco,
E como eu não tinha nada que me ralasse, era livre.
Que é do púcaro e da inocência?
Que é de quem eu deveria ter sido?
E salvo este desejo de liberdade e de bem e de ar, que é de mim?

In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002

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