EM BUSCA DE SINTONIAS
Minha sala de aula é o mundo,
não porque me perco nele como andarilho desgarrado
ou me oriento com uma bússola em amuleto encantado
ou vivo nele como nômade, passageiro do tempo,
mergulhado em espaço,
emaranhado em culturas...
Simplesmente
Coloco-o aqui dentro...
No coração e na mente
no palco do vai e vem de pessoas
no arrastar de carteiras de posições
nos cliques e toques de percepções,
nos movimentos dos grandes personagens, atores...
Nós,
A-L-U-N-O-S
A Sala de Aula é assim. Complexa, rica, dinâmica, misteriosa. Um mundo de possibilidades. Diante do que não se vê e do que se pensa e acredita-se que não deve ser dito, existem cristalizações, mitos, representações.
Há poucos dias, ouvi de um aluno de dezesseis anos que o professor é quem deveria fazer os alunos participarem em sala de aula. Fiquei surpresa com o que foi dito, pois a proposta de participação já tinha sido estrategicamente lançada para turma e, na hora de os alunos atuarem espontaneamente, voluntariamente, todos se calaram e, aprisionados neles mesmos, esperaram iniciativas alheias.
A expectativa de atuação tanto dos alunos quanto do professor em um instante como esse pode ser determinante para o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem. A heterogeneidade em uma classe é mágica e enriquecedora, mas também desafiante e assustadora. Um professor tarimbado, experiente sabe o quanto se pode aprender nessa ambiência, mas o aluno - inexperiente, apressado, ingênuo pode se alvoroçar, criar bloqueios para si e, imediatamente, contagiar outros.
Na balança do tempo, desistências e marcas se imprimem em cada um de nós e o mais triste é lamentar, quando a semente fica estorricada pelo desencanto da primeira hora, da convivência instável que encontrou fertilidade. Enquanto no desejo, no papel, nas teorias, nos discursos, focamos, na educação, uma formação integral, plena do indivíduo, que visa prepará-lo para os grandes desafios da vida em sociedade, na vontade, nos relacionamentos, na prática, ainda continuamos aprisionados, encarcerados psicologicamente por mesmices, ideais retrógradas, modelos ultrapassados, comportamentos herdados de gerações passadas.
De acordo com Paulo Freire, a principal função da educação é de caráter libertador - ensinar é educar para a liberdade. Navegar nesse mundo de relações plurais e significativas, consciente e fiel a uma vocação que exige atualização e responsabilidade social, é reconhecê-lo como um mapa de saberes, valores, normas, representações, imagens, enfim, uma complexidade que move as correntes de evolução da vida humana.
Em encontros e desencontros vamos interpretando linguagens, compartilhando sonhos, sentimentos, valores, encenando novos scripts, organizando a vida humana de acordo com o seu tempo, mas projetando no amanhã ares de modernidade para uma nova história.
Autoria: Nayla Schenka Ribeiro - professora de Inglês em Centro de Idiomas de Instituição Pública de Ensino.
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