sábado, 24 de março de 2012

Alfabetizar e Ecologia: Alfabetização Ecológica?

O que é? 
O DESAFIO DA EDUCAÇÃO
Desde sua introdução, no começo dos anos 80, o conceito de sustentabilidade tem sido distorcido, cooptado e mesmo banalizado quando usado sem o contexto ecológico que lhe dá o sentido adequado. Portanto, acredito ser importante refletir por um instante sobre o que sustentabilidade realmente significa.
O que é sustentável em uma comunidade sustentável não é o crescimento econômico, o desenvolvimento, a fatia de mercado ou a vantagem competitiva, mas toda a teia da vida, da qual todos nós dependemos. Em outras palavras, uma comunidade sustentável estaria desenhada de uma forma que a sua vida, negócios, economia, estruturas físicas e tecnologias não interferissem na habilidade que a natureza tem de sustentar a vida.
O primeiro passo nessa caminhada, naturalmente, é compreender os princípios de organização que os ecossistemas desenvolveram para sustentar a teia da vida. Essa compreensão é o que eu chamo alfabetização ecológica.
Os ecossistemas do mundo natural são comunidades sustentáveis de plantas, animais e microorganismos. Não há lixo nestas comunidades ecológicas: o resíduo de uma espécie é o alimento da outra. Assim, a matéria percorre um ciclo contínuo na teia da vida. A energia que alimenta os ciclos ecológicos vem do sol, e a diversidade e a cooperação entre os membros das cadeias é a fonte da resistência da comunidade.
O Centro de Alfabetização Ecológica em Berkley dedica-se a adotar a experiência da compreensão do mundo natural na educação fundamental. Ser ecoalfabetizado significa, no nosso ponto de vista, compreender os princípios básicos da ecologia e ser capaz de aplicá-los na vida cotidiana das comunidades humanas. Particularmente, nós acreditamos que os princípios da ecologia devem nos guiar para a criação de comunidades sustentáveis. Em outras palavras a alfabetização ecológica oferece um sistema de conhecimento ecológico para a reforma educacional.
A palavra ecologia, como vocês sabem, veio do grego oikos (casa). Ecologia é o estudo de como a casa Terra funciona. Mais precisamente, é o estudo das relações que interligam todos membros da casa Terra.
Sistemas Vivos
A teoria mais apropriada para a ecologia é a teoria dos sistemas vivos. Esta teoria que hoje está em grande evidência, tem suas raízes em diversos campos científicos que se desenvolveram durante a primeira metade do século – biologia organísmica, psicologia gestalt, ecologia, teoria geral dos sistemas e cibernética.
Em todos estes campos cientistas exploraram sistemas vivos, o que significa integrar partes cujas propriedades não podem ser reduzidas em pequenas partes. Embora nós possamos perceber partes em cada sistema vivo, a natureza do todo é sempre diferente da mera soma das partes.
A teoria dos sistemas envolve uma nova maneira de ver o mundo e uma nova maneira de pensar, conhecida como pensamento sistêmico. Significa pensar em termos de relações, conexões e contextos.
O pensamento sistêmico alcançou um outro nível nos últimos vinte anos com o desenvolvimento de uma nova ciência da complexidade, incluindo toda uma nova linguagem matemática e um novo conjunto de conceitos para descrever a complexidade dos sistemas vivos.
Exemplos destes sistemas são abundantes na natureza. Cada organismo – animal, planta, microorganismo ou ser humano – é um todo integrado, um sistema vivo. Partes de organismos – folhas ou células – são também sistemas vivos. No mundo vivo vemos sistemas abrigando outros sistemas. E sistemas vivos incluem comunidades de organismos. Estes podem ser sistemas sociais – uma família, uma escola, uma cidade – ou ecossistemas.
Os sistemas vivos são todos cujas estruturas específicas surgem das interações e interdependências entre as suas partes. A teoria dos sistemas nos diz que todo sistema vivo divide um conjunto de propriedades comuns e princípios de organização. Isto significa que o pensamento sistêmico pode ser utilizado para integrar disciplinas acadêmicas e descobrir similaridades entre fenômenos de diferentes escalas: a criança, a classe, a escola, o bairro e as comunidades e ecossistemas vizinhos.
Os princípios da ecologia são os princípios de organização que são comuns a todo sistema vivo. Isso poderia ser dito assim: existem diferentes padrões de vida. E de fato, em comunidades humanas eles podem ser chamados princípios de comunidade. É claro que há muitas diferenças entre ecossistemas naturais e comunidades humanas. Não há cultura nos ecossistemas, não há consciência, justiça nem equidade. Então não podemos aprender algo sobre estes valores humanos estudando os ecossistemas naturais. O que nós podemos aprender é como viver de forma sustentável. Em mais de três bilhões de anos de evolução os ecossistemas se organizaram para maximizar a sustentabilidade. Esta sabedoria da natureza é a essência da alfabetização ecológica.
Os princípios da ecologia
Quando o pensamento sistêmico é aplicado ao estudo dos múltiplos relações que interligam os membros da casa-Terra, alguns princípios básicos podem ser reconhecidos. Eles podem ser chamados de princípios da ecologia, princípios de sustentabilidade, ou princípios de comunidade, ou você poderia chamá-los de princípios básicos da vida. Nós necessitamos de um currículo que ensine às nossas crianças esses princípios fundamentais da vida:
• que um ecossistema não produz lixo, o lixo de uma espécie é o alimento da outra;
• que a matéria cicla continuamente através da teia da vida;
• que a energia que alimenta os ciclos ecológicos vem do sol;
• que a diversidade assegura a sobrevivência;
• que a vida, desde o seu começo há mais de três bilhões de anos atrás, não expandiu-se pelo planeta através da competição, mas através da cooperação, parceria e trabalho em rede.
Ensinar conhecimento ecológico, que é também sabedoria ancestral, será o papel mais importante da educação no próximo século.
Fritjof Capra

Fonte:  http://www.recriarcomvoce.com.br/blog_recriar/alfabetizacao-ecologica/

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