sábado, 21 de julho de 2012

Autoconhecimento na era da informação

Selecione as informações que chegam até você para não ter estresse e outros problemas

Rosana Faria de Freitas
Do UOL, em São Paulo

 

 

Às vezes você se sente perdido em meio a tanto bombardeio de informações? Também, não é para menos. Estima-se que, de uma década para cá, a humanidade gera, em apenas um ano, milhares de vezes mais informação do que todas as civilizações que já existiram sobre a Terra.
E, apesar desse crescimento vertiginoso da tecnologia que nos mantém cada vez mais conectados, nossa capacidade de lidar com tudo isso permanece a mesma. Um termo criado recentemente pelo arquiteto e designer gráfico norte-americano Richard Saul Wurman resume tudo isso: ansiedade de informação.
“Temos idêntica composição genética e estrutura cerebral dos nossos tataravôs, ou seja, há um limite humano para absorver e lidar com esse fluxo todo”, salienta Roberto Cardoso, médico graduado pela Universidade de Brasília, doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), coordenador do programa de Medicina Comportamental do Femme – Laboratório da Mulher e autor do livro "Medicina e Meditação", MG Editores..
A consequência mais imediata dessa realidade, ele explica, é o estresse, seguido do déficit de atenção do adulto, em que há uma tendência genética para o funcionamento irregular de uma área do cérebro chamada região pré-frontal. A partir daí, o indivíduo estaria sujeito a esquecer as coisas com frequência, distrair-se com facilidade, não conseguir ficar com o corpo parado, ter dificuldades em prestar atenção ao que o outro fala.
“Quando a síndrome tem relação com o trabalho, alguns estudiosos já falam em déficit de atenção organizacional.” Há até termos para definir o quadro e as vítimas: bulimia ou obesidade informacional de cybercondríacos ou dataholics. Para não entrar nessa roda-vida, o médico recomenda três saídas: seleção, pausas mágicas e meditação.
Seleção – Significa filtrar o que ler, vir ou ouvir. “Nesse sentido, diferenciar o que é essencial, útil ou só curiosidade é o primeiro passo para resguardar a saúde mental”, recomenda Cardoso, acrescentando que não é necessário saber tudo que envolve sua própria profissão. “Basta conhecer o que está inserido no universo comum e, quando houver necessidade, ir buscar novas informações.”
Pausas mágicas – Você tem ideia de quanto tempo perde ao ser interrompido por alguém no trabalho? E olha que isso ocorre com frequência: segundo as pesquisas, no ambiente da tecnologia de informação, alguém corta seu raciocínio a cada 11 minutos. E isso sem falar no i-Phone despejando torpedos e e-mails sem parar. “Por isso, se você precisa criar, aprimorar ou inovar, deve programar momentos, no decorrer do dia, em que não possa ser interrompido.” O especialista recomenda dois períodos, de 90 minutos cada um, com a porta fechada, o celular desligado e sem conferir e-mails e afins.
Meditação – A prática ajuda a relaxar, manter a atenção, dormir melhor e, mais que isso, ‘desligar’ a mente por alguns minutos. Isso traz, segundo Cardoso, um enorme descanso mental, e ainda ajuda a melhorar a performance, aumentar a produtividade e dar um refresco diante das gigantescas ondas de informação que nos atinge diariamente. “A meditação é tão benéfica que reduz mais o consumo de oxigênio cerebral do que o sono.”


Dicas e reflexões para quem tem ansiedade de informação

Perceba se, ao acumular informações demais, você se sente cada vez mais ansioso, em vez de saciado e tranquilo. E pense que, se anda submerso nesse excesso de dados, talvez tenha desaprendido a priorizar, a escolher o que é importante.
Na dúvida, responda às perguntas: tudo que estou captando é necessário de fato para minha vida? Comumente sinto ânsia de obter cada vez mais informações? Ouço, vejo ou leio várias vezes fontes de dados sobre o mesmo tema? Caso tenha respondido sim a todas as questões, cuidado.
A informação é algo útil, porém deve ser um meio, e não um fim – o objetivo primordial e final. Dessa forma, se você se dedica muito mais a buscar informações do que a viver o presente, algo está errado. O perigo é desencadear ansiedade e depois estresse, resultando em doenças.
Um dos sintomas de que a pessoa está exagerando na dose é a falha episódica de memória. Segundo Ricardo Sabbatini, pesquisador e neurocientista da Universidade de Campinas (Unicamp), com doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado pelo Instituto de Psiquiatria Max Planck em Munique, Alemanha, quando toca o celular e a pessoa interrompe repetidamente uma tarefa que estava realizando, automaticamente inibe os circuitos cerebrais formados para que o dado seja decodificado. “Ao começar outra atividade, como falar ao celular, o cérebro terá que iniciar um novo circuito. Esse vai-e-vem, que é desgastante, pode causar lapsos de memória e dificultar a absorção e o processamento de informações em curso”.
Reflita que o mundo não vai acabar se você ficar alguns períodos ''desplugado". Dr. Cardoso ensina: “Quando for dormir, faça-o plenamente, não acesse mais o celular e o i-Phone até o último momento antes de fechar os olhos. E evite deitar com qualquer fonte de informação ativada. Da mesma forma, ao tirar férias, desligue mesmo, ao invés de ficar conectado”.
Quem tem mais propensão a passar dos limites: jovens e adultos entre 25 e 50 anos, e algumas classes como jornalistas e profissionais que atuam com Tecnologia da Informação (TI). “O impacto nos mais novos é menor porque o cérebro já se adaptou, desde cedo, a essa realidade", diz Dr. Cardoso, Acrescentando:"Mas tal capacidade, que chamamos de plasticidade, também tem seu limite, uma vez que carregamos o mesmo DNA dos nossos antepassados, e por isso temos uma condição finita de absorção”.
Por fim, considere que nem toda informação é útil ou confiável. “Vale muito mais filtrar, selecionar e se alimentar apenas do que tem relevância, em vez de atirar para todo lado tentando obter dados de diversas fontes, sem critério, sem busca de qualidade, e muitas vezes conflitantes. Não resolverá seu problema, ao contrário, só causará mais confusão e ansiedade”, finaliza o médico. 
Você tem ansiedade  de informação? 




 

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