sábado, 24 de novembro de 2012



Bem, eu nasci com uma doença rara da visão chamada acromatopsia, que é o daltonismo total. Portanto, nunca vi a cores, e não sei qual é o aspecto das cores, porque venho de um mundo em escala de cinzentos. Para mim, o céu é sempre cinzento, as flores são sempre cinzentas, e a televisão ainda é a preto e branco.
Mas, desde os 21 anos, em vez de ver a cores, eu oiço a cores. Em 2003, comecei um projecto com o cientista computacional Adam Montandon, e o resultado, com colaborações adicionais de Peter Kese, da Eslovénia, e Matias Lizana, de Barcelona, é este olho electrónico. É um sensor de cores que detecta a frequência da cor à minha frente -- (sons) -- e envia essa frequência para um chip instalado na parte de trás da minha cabeça, e eu oiço a cor à minha frente através dos ossos, através de condução óssea. (Sons) Então, se eu tiver, por exemplo, isto -- este é o som do violeta. (sons da frequência) Por exemplo, este é o som das ervas. (sons da frequência) Isto é vermelho, como "TED". (sons da frequência) Este é o som de uma meia suja. (Risos) Que é como o amarelo, esta.
Portanto, tenho andado sempre a ouvir cores, há oito anos, desde 2004. Por isso, para mim agora, é completamente natural ouvir cores o tempo todo. No início, contudo, tive de memorizar os nomes que vocês dão a cada cor, tive de memorizar as notas, mas passado algum tempo, toda esta informação se tornou uma percepção. Não tinha de pensar nas notas. E, passado algum tempo, esta percepção tornou-se uma sensação. Comecei a ter cores preferidas, e comecei a sonhar a cores.
Foi quando eu comecei a sonhar a cores que senti que o software e o meu cérebro se tinham unido, porque, nos meus sonhos, era o meu cérebro que criava sons electrónicos. Não era o software, e foi então que me comecei a sentir como um ciborgue. Foi quando eu comecei a sentir que o aparelho cibernético já não era um aparelho. Tinha-se tornado parte do meu corpo, uma extensão dos meus sentidos, e, passado algum tempo, até se tornou parte da minha imagem oficial.
Este é o meu passaporte de 2004. Não é permitido aparecer nos passaportes do Reino Unido com equipamento electrónico, mas eu insisti com os serviços que emitem os passaportes, que o que estavam a ver era, na verdade, uma nova parte do meu corpo, uma extensão do meu cérebro, e finalmente aceitaram que eu aparecesse assim na foto do passaporte.
A minha vida mudou drasticamente desde que eu oiço a cores, porque a cor está praticamente em todo o lado. A maior diferença é, por exemplo, ir a uma galeria de arte e poder ouvir um Picasso. É como se estivesse num concerto, porque posso ouvir os quadros. E nos supermercados, acho isto muito chocante, mas é muito, muito atraente passear num supermercado. É como ir a uma discoteca. Está cheio de diferentes melodias. (Risos) Sim. Especialmente o corredor dos produtos de limpeza. É simplesmente fabuloso. (Risos)
Também a maneira como me visto mudou. Antes, costumava vestir-me de maneira a que parecesse bem. Agora visto-me de maneira a que soe bem! (Risos)
(Aplausos)
Portanto, hoje estou vestido em dó maior, que é um acorde muito feliz. (Risos) Se eu tivesse de ir a um funeral, contudo, vestir-me-ia em si menor, que seria turquesa, violeta e laranja. (Risos)
Também a comida, a maneira como olho para a comida mudou, porque agora posso distribuir a comida no prato de maneira a comer a minha canção preferida. (Risos) Dependendo de como a distribuo, posso ouvir e compôr música com comida. Imaginem, então, um restaurante onde podem ter, por exemplo, saladas Lady Gaga para entrada. (Risos) Talvez isto fizesse os adolescentes comer legumes! E também alguns concertos de piano de Rachmaninov, como pratos principais, e algumas sobremesas Madonna ou Björk. Seria um restaurante muito empolgante, onde na verdade podemos comer canções.
Também a maneira como entendo a beleza mudou, porque quando olho para alguém, oiço a sua cara. Portanto, uma pessoa pode parecer lindíssima e soar terrível. (Risos) E pode acontecer o contrário, vice-versa. Adoro realmente criar, por exemplo, retratos sonoros das pessoas. Em vez de desenhar a cara de alguém, de desenhar a forma, aponto-lhes o olho e escrevo as diferentes notas que oiço, e depois crio retratos sonoros. Aqui estão algumas caras.
(Acordes musicais)
É verdade, a Nicole Kidman soa bem. (Risos)
Algumas pessoas, que eu nunca relacionaria, soam de forma parecida. O Príncipe Carlos tem algumas semelhanças com a Nicole Kidman. Os sons dos olhos são semelhantes.
Relacionamos então pessoas que nunca relacionaríamos, e também podemos mesmo criar concertos olhando para as caras do público. Conecto o olho, e depois toco as caras do público. A coisa boa nisto é que, se o concerto não soar bem, é culpa deles. Não é culpa minha, porque... (Risos)
E uma outra coisa que acontece é que comecei a ter este efeito secundário de os sons normais começarem a tornar-se cores. Ouvi o som de um telefone, e pareceu-me verde porque soava exactamente igual à cor verde. Os bipes da BBC soam turquesa, e ouvir Mozart tornou-se uma experiência amarela,
por isso comecei a pintar música e a pintar vozes de pessoas, porque as vozes das pessoas têm frequências que eu posso relacionar com cores.
E aqui está, música traduzida em cores. Por exemplo, Mozart, "Rainha da Noite", parece-se com isto. (Música) Muito amarela e muito colorida, porque há muitas frequências diferentes. (Música) E esta é uma música completamente diferente. (Música) É a "Baby", do Justin Bieber. (Risos) (Música) É muito cor-de-rosa e muito amarela.
E também vozes, consigo transformar discursos em cor. Por exemplo, estes são dois discursos muito famosos. Um deles é de Martin Luther King, "I Have a Dream", e o outro é de Hitler. E gosto de expor estes quadros nas salas de exposição sem legendas, e depois pergunto às pessoas: "Qual deles é que prefere?" E a maioria das pessoas muda a preferência quando lhes digo que o que está à esquerda é Hitler e o outro à direita é Martin Luther King.
Cheguei então a um ponto em que era capaz de distinguir 360 cores, tal e qual como a visão humana. Era capaz de diferenciar todos os tons do círculo cromático. Mas foi então que pensei que esta visão humana não era suficientemente boa. Há muitas, muitas mais cores à nossa volta que não conseguimos detectar, mas que olhos electrónicos conseguem. Por isso decidi continuar a expandir os meus sentidos cromáticos, e incluí os infravermelhos e os ultravioleta na minha escala cor-passa-a-som e, portanto, agora consigo ouvir cores que o olho humano não consegue detectar.
Por exemplo, distinguir infravermelhos é bom porque podemos detectar se há detectores de movimento numa sala. Consigo ouvir se alguém me aponta um comando da televisão. E o que há de bom em detectar ultravioletas é que podemos ouvir se o dia é bom ou mau para o bronze, porque o ultravioleta é uma cor perigosa, uma cor que nos pode efectivamente matar, por isso acho que todos nós deveríamos ter este desejo de detectar coisas que não conseguimos detectar.
Foi por isso que, há dois anos, criei a Fundação Ciborgue, que é uma fundação que tenta ajudar as pessoas a tornarem-se ciborgues, que tenta incentivar as pessoas a expandir os seus sentidos utilizando tecnologia como parte do corpo.
Devemos todos pensar que o conhecimento provém dos nossos sentidos, portanto, se expandirmos os nossos sentidos, vamos consequentemente expandir o nosso conhecimento. Acho que a vida será muito mais excitante quando pararmos de criar aplicações para os telemóveis e começarmos a criar aplicações para os nossos próprios corpos. Acho que esta será uma grande, grande mudança a que assistiremos durante este século.
Portanto, encorajo-vos a todos a pensar que sentidos gostariam de expandir. Encorajo-vos a tornarem-se ciborgues. Não estarão sozinhos. Obrigado.

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