domingo, 18 de novembro de 2012

Português, Inglês, Literatura, Geografia, Cognição




O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia

Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.


O Tejo tem grandes navios

E navega nele ainda,
Para aqueles que veem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

 
 


O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.







Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.

Quem está ao pé dele está só ao pé dele.


 



(Do livro "Ficções do Interlúdio", de Alberto Caeiro - Heterônimo de Fernando Pessoa)

Nenhum comentário:

Postar um comentário