Muito além dos tablets: digitalização da educação implica mudança de cultura
Introduzir a tecnologia em sala de aula já não é tarefa fácil.
Além do investimento financeiro que a medida impõe, as instituições de
ensino acabam tendo que destinar tempo e recursos na formação de
educadores e adaptação de conteúdos. E como se não bastasse, em pouco
tempo de implementação, especialistas na área já chegaram a um consenso:
não basta apenas ter um tablet à mão, é preciso que a escola absorva os
princípios da cultura digital.
“Digitalização não tem a ver apenas com introdução de tablets e
projetores em sala de aula. Tem a ver com uma mudança de cultura”,
analisa Ana Barroso, especialista em comportamento digital, sócia da
Sodet – empresa que desenvolve ferramentas de colaboração e
compartilhamento de informações.
Segundo ela, os educadores precisam ter acesso à ferramentas que os
possibilitem compartilhar e distribuir o conhecimento que já possuem. “É
muito comum ver professores em pânico diante de tantos estímulos.
Muitas vezes eles terminam isolados tentando lidar com redes sociais e
outras plataformas.”
Para evitar esse tipo de situação, uma das saídas propostas por Ana é
a formação de redes. Ela acredita que essa pode ser uma forma de romper
com o medo da tecnologia e permitir a troca de experiências exitosas
entre docentes. Como resultado imediato, eles teriam disponível um
grande leque de vivências em sala de aula.
Educação do Futuro
Alguns países, como Estados Unidos e Finlândia, vêm testando formatos
educacionais nos quais a incorporação da cultura digital – com ênfase
para os aspectos de co-criação, colaboração e compartilhamento –
acabaram forjando novos paradigmas de aprendizagem.
Durante o “Congresso Visão XXUNO: O desafio de construir a escola”, que o Portal Aprendiz
acompanha em Orlando, Estados Unidos, o diretor geral da Santillana
Digital, Miguel Barrero, apresentou os alicerces da educação do futuro.
Flip Education
Um dos maiores exemplos de Flip Education é a Khan Academy. Elaborada por Salman Khan, trata-se de uma plataforma de mais de 3.800 vídeos educacionais vistos por milhões de pessoas, incluíndo os filhos de Bill Gates.
Baseada em pesquisa e investigação, a chamada Educação Invertida
pressupõe que a escola é um lugar de interação e, sobretudo, um espaço
para sanar dúvidas. Por meio de videoaulas, os alunos recebem os
conteúdos a serem estudados em casa e vão às aulas para construir
significados sobre o que aprenderam. Nesse modelo, o estudante é
protagonista do processo educativo e cabe ao professor estabelecer
dinâmicas e caminhos, a fim de orientá-lo. O mobiliário tradicional de
uma sala de aula não dá conta dessa proposta, por isso, a tendência é
que os espaços educativos sejam todos circulares. Na Finlândia, esse
cenário já é uma realidade.
Anytime Anywhere Education
Educação Expandida é aquela que ocorre a qualquer tempo, em qualquer
lugar. Na prática, isso implica numa aprendizagem para alem do horário
escolar e dos muros da escola.
Open Education
Nos próximos anos, a demanda por uma educação gratuita e de acesso a
todos será cada vez maior. Com o aparecimento de plataformas que podem
ser utilizadas no processo pedagógico, como Instagram e Pinterest,
somadas àquelas desenvolvidas por empresas e universidades com essa
finalidade, o mundo está prestes a ser um grande território educativo.
Adaptive Education
Implementada em Nova York em larga escala, por meio do programa
iZone, a denominada educação personalizada tem no aluno a chave para o
aprendizado. Em vez de convencê-lo de que determinado assunto deve ser
estudado, a personalização do ensino parte dos seus interesses e de suas
potencialidades para estabelecer o processo educativo.
P2P Education
Estudos indicam que a confiabilidade entre iguais é muito maior do
que quando há uma hierarquia estabelecida. A educação entre iguais eleva
o protagonismo do aluno ao regime de colaboração e compartilhamento. Ou
seja, esse modelo propõe que alunos compartilhem entre si a produção de
conhecimento.
BYOD Education
Bring Your Own Device (Traga seu próprio dispositivo) é o mote de uma
educação plenamente digitalizada. Não importa se tablet ou smart phone,
o fato é que esses gadgets serão cada vez mais falados quando o assunto
for educação.
Será o fim da escola?
Diante dessa nova realidade, é impossível não se perguntar se veremos
o fechamento massivo de escolas pelo mundo. Axel Rivas, docente
argentino especializado em política educacional, acredita que as escolas
não desaparecerão porque serão capazes de se repensar.
Rivas falou durante o congresso sobre a necessidade da escola se
reinventar, desconstruir alguns dogmas que acompanharam sua trajetória
como instituição e ser capaz de desempenhar um papel relevante no
contexto das novas tecnologias.
“A ameaça do fim das escolas existe e nunca antes foi tão difícil ser
docente. Ao mesmo tempo, pela primeira vez, temos muito mais liberdade
para ensinar e aprender”, reflete o professor.
A repórter Raiana Ribeiro viajou aos Estados Unidos a convite do Sistema Uno Internacional (UNOi).
Fonte: Portal Aprendiz
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